Escassez de mãos leva empresas a antecipar empregos do Natal

Ainda faltam algumas semanas para que se vejam por toda a parte luzes a piscar, sinos a tilintar e portugueses na correria para comprar presentes. Mas as empresas — do comércio à logística — já começaram a reforçar as suas equipas, apesar da inflação e do previsível impacto que terá no consumo. Ao ECO, vários empregadores avançam que decidiram antecipar o recrutamento para tentar contornar a escassez de trabalhadores, sendo que há quem dependa muito dos estudantes que ficam de férias neste período. E há mesmo quem pague prémios a quem conseguir indicar candidatos adequados, tais são as dificuldades em preencher as vagas disponibilizadas na quadra festiva.

“As empresas devem ser capazes de corresponder às necessidades dos clientes, reforçando os seus negócios com talento temporário ou reforço de horários. No entanto, dado o contexto atual de escassez de talento, isto é algo que tem vindo a ser cada vez mais difícil“, relata Daniela Lourenço, brand leader da ManPower, empresa especialista em recursos humanos.

Perante este crescente desafio, a responsável sublinha que a primeira recomendação é a preparação antecipada da época festiva. “Fazer um planeamento e agendar com antecedências as necessidades em termos de equipas é essencial para que as empresas garantam o desejado resultado em termos de vendas”, explica.

E também Eduardo Gomes, sourcing manager da empresa de recursos humanos Multipessoal, indica que as empresas “antecipam cada vez mais os processos de recrutamento, de forma a assegurarem os reforços necessários para esta época do ano”.

Vamos, então, ao terreno. Ainda recentemente, numa entrevista ao ECO, a diretora de recursos humanos da McDonald’s Portugal, Sofia Mendoça, adiantava que, até ao final do ano, esta gigante da restauração pretende recrutar mais mil trabalhadores, uma vez que a quadra festiva coincide com um pico de procura por parte dos consumidores.

Dizia, porém, não prever dificuldades no preenchimento dessas vagas, porque a McDonald’s tem reforçado a sua política de atração de talento, nomeadamente antecipando o recrutamento. “Conseguimos criar um ambiente muito mais calmo, estável, de integração, de acolhimento a todos os nossos colaboradores“, sublinhava Sofia Mendoça.

O El Corte Inglés sabe da dificuldade atual de encontrar candidatos e, por essa razão, iniciou mais cedo campanha de recrutamento para a época do natal. A divulgação das vagas em aberto tem sido feita através de redes sociais ou através de campanhas internas.

Já o El Corte Inglés, que tem abertas atualmente 500 vagas de emprego, reconhece dificuldades no recrutamento de candidatos. Daí que tenha iniciado “mais cedo a campanha de recrutamento para a época do Natal”, assinala fonte oficial, em declarações ao ECO.

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“Não podemos negar que existem dificuldades adicionais em encontrar estes reforços [das equipas para o Natal], nos dias de hoje”, concorda Nuno Pardalejo, diretor de exploração da FNAC Portugal, que defende que uma das estratégias importantes para tentar contornar esse cenário é o planeamento antecipado. No caso da FNAC Portugal, estão a ser recrutados, neste momento, 400 trabalhadores, número superior em cerca de 10% ao verificado há um ano.

Na mesma linha, a Worten diz ter iniciado o processo de recrutamento “em meados de outubro” para garantir que tem os trabalhadores necessários para os picos de vendas associados às campanhas da Black Friday, no final de novembro, e do Natal, revela Inês de Castro, head of people ao ECO.

No caso desta empresa, estão disponíveis hoje cerca de 420 vagas, maioritariamente para as funções de vendedor e operador de logística. E, desse total, cerca de 20 servem para reforçar a equipa de técnicos de reparação ao domicílio a nível nacional (Porto, Aveiro, Lisboa, Faro, Leiria), detalha Inês Castro.

Estudantes, prémios e processos de recrutamento mais fáceis

O recrutamento antecipado é relevante, mas não esgota as estratégias das empresas para contornarem a escassez de mão de obra. Para isso, hoje faz-se mira aos estudantes de férias, oferecerem-se prémios a quem indicar bons candidatos e até se facilitam os processos de recrutamento, descrevem os empregadores.

Por exemplo, no caso do El Corte Inglés, fonte oficial adianta que a divulgação de vagas tem sido feita através das redes sociais e de campanhas internas. Os colaboradores que referenciaram candidatos que venham a ser contratos recebem mesmo um prémio, assegura a retalhista espanhola.

“Os colaboradores com filhos com mais de 16 anos também podem inscrevê-los para os embrulhos. O El Corte Inglés tem parcerias com escolas, universidades e associações, o que nesta altura é também uma mais-valia”, acrescenta fonte oficial.

Um plano semelhante tem a FNAC Portugal. Nuno Pardalejo explica que “uma parte importante” dos colaboradores que trabalham todos os anos neste período na multinacional são estudantes. “Nestes casos, a FNAC tenta ao máximo ir ao encontro das suas disponibilidades de horário. A verdade é que muitos destes acabam por se tornar colaboradores FNAC“, sublinha.

O planeamento antecipado do recrutamento e o recurso a iniciativas diferenciadoras como Fnactico Recomenda um Amigo — em que cada colaborador propõe pessoas conhecidas para este recrutamento extraordinário — são estratégias importantes para alcançar este objetivo.

Além disso, a FNAC Portugal tem dinamizado a iniciativa Fnactico Recomenda um Amigo, no âmbito da qual cada trabalhador pode propor pessoas conhecidas para o recrutamento extraordinário para a quadra festiva. “São estratégias importantes para alcançar este objetivo”, destaca o responsável.

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Do comércio para a logística, a DPD tem hoje abertas 200 vagas para a triagem nos armazéns e 250 para a tributação, valores próximos aos registados há um ano, adianta fonte oficial. Mas reconhece: “O mercado está atualmente numa fase de pleno emprego pelo que lança novos desafios à DPD na busca por talento”.

Perante este cenário, a DPD enumera as seguintes estratégias para “fintar” a escassez de talento: “a aposta em processos mais simples e orientados aos candidatos, um melhor enquadramento inicial do que é esperado e uma política de remuneração com uma dimensão associada à retenção visa precisamente garantir que temos as melhores pessoas connosco”.

O ECO também questionou a Jerónimo Martins e a MC, dois dos maiores empregadores do país, sobre o recrutamento nesta quadra festiva, mas a primeira avançou que não terá um aumento considerável dos postos de trabalho e a segunda respondeu que a composição das equipas tem vindo a ser atualizada continuamente “por forma a garantirmos que, nomeadamente na época de Natal, nada faltará aos clientes”.

Inflação não faz encolher vagas, mas recomenda prudência

Apesar de a inflação continuar num nível elevado, e de as famílias estarem confrontadas com um aumento do custo de vida, as vagas de empregos disponíveis a propósito da quadra disponíveis não estão a encolher.

“Estamos a assistir a um aumento de 38% no número de vagas a preencher”, garante a Daniela Lourenço, da ManPower. “Face ao ano passado, registamos este ano um número superior de vagas de emprego. Estamos a ter na Multipessoal um aumento de pedidos de recursos humanos, de forma global“, corrobora Eduardo Gomes.

Antecipamos, fruto do contexto atual, um nível de contratação mais moderado do que em anos anteriores, algo que poderá evidenciar uma postura prudente e cautelosa por parte de quem recruta.

Já Afonso Carvalho, presidente da Associação portuguesa das empresas do setor privado de emprego e de recursos humanos (APESPE-RH), antevê prudência nas contratações. “Antecipamos, fruto do contexto atual, um nível de contratação mais moderado do que em anos anteriores, algo que poderá evidenciar uma postura prudente e cautelosa por parte de quem recruta”, realça o responsável.

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Ainda assim, numa nota mais positiva, Afonso Carvalho diz acreditar “que o nível de vagas poderá crescer, caso a procura e o nível de consumo também seja crescente”.

A DPD, por exemplo, está a disponibilizar um número de vagas semelhante ao do período homólogo, embora antecipe que a atividade diária crescerá na quadra festiva “ligeiramente” menos do que há um ano. “Os indicadores que temos até ao momento fazem-nos prever que a atividade diária em novembro e dezembro se posicione cerca de 23% acima da média do ano até outubro, variação ligeiramente abaixo do ano anterior“, afirma fonte oficial.

Mas há também, entre os retalhistas, quem tenha otimismo. O El Corte Inglés reconhece que os clientes poderão fazer “alguma contenção nos gastos“, mas projetam que terão “uma grande afluência nesta época do ano”, daí não terem reduzido o número de vagas face a 2022. Assim, apesar da inflação, o El Corte Inglés diz estar a disponibilizar um número idêntico de oportunidades de trabalho face ao período homólogo.

Com menos ou mais vagas de trabalho, menos ou mais rendimentos na carteira, empresas e portugueses, respetivamente, prepararam-se para o período de agitação festiva que aí vem. A Black Friday acontece já a 24 de novembro, mas há quem antecipe promoções. E alguns clientes aproveitam já para ir enchendo o sapatinho.

Fonte: https://eco.sapo.pt/2023/11/02/empresas-recrutam-mais-cedo-para-tentar-fintar-escassez-de-trabalhadores-no-natal

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