Portugal registrou um número recorde de crimes em 2023, segundo dados da Direção-Geral de Política de Justiça (DGPJ), órgão ligado ao Ministério da Justiça. Ao todo, foram mais de 371 mil ao longo do ano, um crescimento de 8% em relação a 2022. É o maior número de ocorrências desde 2013, quando o país enfrentou pouco mais de 376 mil crimes.
Na última década, segundo as informações da DGPJ, a quantidade de crimes só ficou abaixo dos 300 mil em 2020 (298.787 ocorrências) devido ao confinamento provocado pela pandemia da Covid-19.
Os crimes incluídos no levantamento foram os registrados pela Polícia Judiciária, Polícia de Segurança Pública, Guarda Nacional Republicana, Autoridade de Segurança Alimentar e Econômica, Polícia Marítima, Polícia Judiciária Militar, Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e Autoridade Tributária e Aduaneira.
Crimes contra o patrimônio são a maioria
As estatísticas consolidadas pela Direção-Geral da Política de Justiça consideram todos os tipos de crimes, daqueles contra o Estado até aqueles contra os animais.
Em 2023, pouco mais da metade (51%) dos crimes teve como alvo o patrimônio. Em segundo lugar, os crimes contra as pessoas (24,4%), seguidos pelos crimes contra a vida em sociedade (11,9%).
A alta nos indicadores se deu em todos os tipos de crime, com exceção daqueles contra os animais de companhia, que passaram de 2022 (em 2022) para 1.729 (em 2023).
Nas demais tipologias, a maior alta foi nas ocorrências contra o Estado, um aumento de 16,9%, seguida dos crimes contra a identidade cultural e integridade pessoal, que cresceu 9,6%. Os crimes contra as pessoas tiveram crescimento de 5,8% na comparação com o ano anterior.
Violência doméstica tem alta
Uma análise mais detalhada de cada um dos tipos de crimes coloca como destaque negativo as ocorrências de “violência doméstica contra cônjuges ou análogos”, com pouco mais de 26 mil episódios ao longo de 2023.
Em segundo lugar, figuram os crimes de condução de veículo com taxa de álcool igual/superior a 1,2 g/l.
Também aparecem com algum destaque na quantidade de ocorrências os seguintes crimes: ofensas à integridade física, a condução sem habilitação legal, furto de veículo motorizado, burla (fraude) informática e ameaça e coação.
Lisboa registrou mais criminalidade
A chamada criminalidade violenta aumentou 5,5% em 2023, com cerca de 14 mil casos. Mesmo com o aumento, os números ficaram abaixo dos registrados em 2019 (14.389 casos).
Em 2020 (12.469 crimes) e 2021 (11.014 crimes) o confinamento contribuiu para a queda nos indicadores, que voltaram a subir em 2022 (13.381) e agora em 2023.
As regiões com mais episódios foram Lisboa (3.835), Porto (2.010), Lisboa Oeste (1.668), Algarve (901) e Lisboa Norte (858).
É preciso análise mais detalhada, aponta especialista
Segundo o Observatório de Segurança Interna, associação de direito privado que visa o estudo, a investigação, o debate e a divulgação das temáticas relativas à Segurança Interna, é necessário que seja feita uma reflexão com mais dados, que permitam que sejam tomadas outras considerações e medidas.
“Do ponto de vista estatístico, são dados realmente preocupantes, mas poderá não haver um real aumento de criminalidade, mas sim um aumento do número de queixas às autoridades”, ponderou o presidente da entidade em entrevista para a agência Lusa.
No caso da condução de veículos sob efeito do álcool, por exemplo, é preciso analisar em que zonas isso é mais frequente, se os condutores são mais jovens e se os casos são perto de casas de diversão noturna. “Portanto, diversas métricas têm que ser analisadas, até para a resposta ser assertiva”, reforçou o porta-voz da entidade.
Portugal ainda é um dos países mais seguros do mundo
Apesar do aumento em alguns indicadores de criminalidade, Portugal ainda aparece nos rankings como um dos países mais seguros do mundo. Conforme os dados do mais recente relatório Global Peace Index 2023, Portugal ocupa a sétima posição geral entre os mais de 160 países e territórios pesquisados, em uma lista que tem nas primeiras posições a Islândia e a Dinamarca.
Numa análise apenas dos países europeus, Portugal surge como o quinto mais seguro, atrás da Islândia, Dinamarca, Irlanda e Áustria.
Por outro lado, nem todos os indicadores de segurança em Portugal são positivos: uma pesquisa recente elencou os países menos e os mais seguros para dirigir, tendo como base o número de mortes nas estradas por milhão de habitantes.
Portugal, com cerca de 62 mortes por milhão, aparece como o quinto mais seguro, à frente de Romênia, Sérvia, Bulgária e Croácia. No extremo oposto, o mais seguro é a Noruega, com 21,7 mortes nas estradas por milhão de habitantes.
Fonte: https://www.eurodicas.com.br/criminalidade-cresce-em-portugal